quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Críticas por Ediélio Mendonça



Dia 26/11 - “O Inimigo do Povo”,Grupo Código

O espetáculo se apropria de alguns trechos do original para usá-lo não como base, mas como instrumento pra viagem cênica do grupo. O texto de Ibsen (podendo ser considerado verborrágico para os dias de hoje) já tem em si um caráter combativo e de denuncia cuja força das palavras é mais eloquente do que qualquer pantomima possível.

Os 20 minutos finais do espetáculo atingem um nível muito acima da média proporcionando ao público concentração e envolvimento ou quando o elenco em coro canta. Há um tom de protesto tipo “agit pop”, dos anos 60 do sec. XX levado a cena como sermões.

O cenário estético (andaimes) é de grande efeito visual, apesar do excesso de movimentação. As musicas estão dentro da proposta e pontuam as cenas tendo grande apelo popular. O elenco tem tarefa hercúlea de levar a ação, com destaque para o Jorge Braga que faz o Dr. Stockman e atriz Roberta Tavares que faz Dona Carmen e uma jornalista. Mas fica para lembrança a frase do crítico e historiador John Gassner: “O Inimigo do Povo é intrinsecamente uma comédia

Dia 25/11 - “O livro mágico da Emilia”,Grupo Cochicho na Coxia

 A idéia de subverter ou desconstruir as historias ou contos tradicionais infantis é uma ótima possibilidade, mas entre a realização e a proposta fica um caminho longo que, as vezes, não é bem percorrido. É o caso deste espetáculo que busca certa coerência e não consegue dar cabo da tarefa.

Faltou à equipe entrar na possível proposta do texto, também subvertendo a própria encenação. Mas o que se viu foi um espetáculo com temática infantil bastante anacrônica; com figurinos fracos devendo ser melhorados e um cenário em forma de Tapadeiras que só faz entradas e saídas. O elenco bastante imaturo, faz o que pode, melhorando, um pouco, com a entrada do personagem Gênio (Diego Lessa.) que injeta força na ação.

  Dia 24/11 - “Pária”, Queimados Encena

A ousadia e o destemor de montar um texto de August Stridberg, dramaturgo sueco do Sec. XIX, já é por si só um mérito. Sobretudo, nos dias de hoje, onde muitos “famosos” preferem o “stand up comedy” pra não ter muito trabalho e ganhar mais. O espetáculo, ainda “in progress’, me parece, vem revestido da maior seriedade e maior respeito ao texto. Não conheço o original, mas o que estava em cena conserva muito da obra do referido autor, ou seja, a riqueza do conflito psicológico, o retrato extremado da realidade e a inviabilidade do ser humano.

A montagem ainda esta presa ao palco precisando de alguns acertos aumentando a qualidade do que é o esboço de um espetáculo. Um possível caminho é diferenciar um pouco os 2 personagens seja na postura, no comportamento, no gestual e não apenas no que falam, ou  então, só nos figurinos. Quem sabe colocar o texto na primeira pessoa o que facilitaria a comunicação, fazendo perder toda a densidade, favorecendo assim uma autenticidade. Os atores, talvez pelo pouco tempo de ensaio, ainda estão recitativos e, às vezes, monocórdios com o texto mais memorizado do que vivido.

O caminho está aberto e só caminhar um pouco mais.

Dia 23/11 - “As artimanhas do grande enganador”,  Cia de Arte Popular

 A competência da Cia de Arte Popular, permanece a mesma neste seu 2 ° espetáculo adulto “As artimanhas do grande enganador” baseado no original “A farsa do Doutor Pathelin” texto medieval de domínio publico. O texto base sempre foi incompleto, pois era passado, oralmente de atores para atores na Idade Média. Nisto, talvez esteja o impasse do espetáculo.

A Direção contida de Tom Pires estabelece um espetáculo de qualidade, onde as excelentes músicas de Beto Gaspari acabam emperrando um pouco a trama. Figurinos e Ambientação satisfatória com elenco cumprindo bem sua função apesar de alguns problemas no canto individual. A destacar Nancy Calixto (Clementina), uma atriz em franca ascensão.

Dia 22/11 - “Pequeno grande Circo Brasil” , CETA – Centro Experimental de Teatro e Artes

De início que fique claro que não é um espetáculo teatral do ponto de vista dramatúrgico, mas sim, um espetáculo circense no palco de um teatro. Feito com uma simplicidade franciscana, quase artesanal, mas de grande qualidade e como dizem os franceses: um “divertissement”.

Quadros no ritmo exato, sem excessos e nem estrelismos, na medida certa sem alongamentos desnecessários.  Quase todos os quadros com gostinho de quero mais.  São artistas e não atores no pleno exercício de seus talentos concisos do dever de realizar o melhor de si. Acrobatas, malabaristas todos brincando nas suas modalidades cientes que ainda tem muita estrada a percorrer, mas já com características daqueles que tem refletor dentro da alma.

Trilha sonora ótima, figurinos coloridos e funcionais só carecendo, às vezes, de maior ritmo na ligação dos quadros. O ótimo final apoteótico no quadro do lixo com uma mistura inusitada de Chaplin com Fellini. Os palhaços bem performáticos com Vânia Santos brilhando como atriz – Palhaça Margarida.

Ediélio Mendonça é diretor, ator e figurinista formado em Pedagogia e Historia das Artes pela UERJ. Foi Professor de Literatura Dramática, História das Artes e História do Teatro Brasileiro no Teatro/ Escola Rosane Goffman e Universidade Estácio de Sá. Premiado em 1976 com Moliere.

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